Por Bernardo Silva, manager INESC TEC
Esta entrevista foi conduzida a Bernardo Silva, manager do INESC TEC, no âmbito do projeto Blue Compass, promovido pela Rede Hub Azul Portugal, com base em insights do Hub Azul Dealroom, a principal plataforma digital de matchmaking para a inovação azul.
O setor das energias renováveis oceânicas está a evoluir ao ritmo necessário para cumprir as metas energéticas e climáticas? O que falta ainda?
Em primeiro lugar, torna-se necessário distinguir as fontes de energia, nomeadamente a eólica offshore, energias das ondas, energia das marés e solar oceânico.
A energia eólica offshore encontra-se em estado de maturidade comercial, tendo inclusivamente provas dadas em território nacional. Todavia, as energias das
ondas, a energia das marés e solar oceânico estão numa fase de menor amadurecimento tecnológico.
Para o cumprimento das metas, temos que dispor de sistemas de energias offshore que garantam mais energia de fonte renovável e desejavelmente menor custo
nivelado de eletricidade (CNE), podendo ter que recorrer a diversas fontes de energia, partilhando a utilização das infraestruturas de interligação com a
rede em terra, que representam um custo significativo. Deste modo, falta ainda algum desenvolvimento para o cumprimento de metas.
Não obstante, o investimento em eólica offshore com CNE aceitáveis, poderá ajudar bastante o aumento de penetração de fontes renováveis no sistema
elétrico e criar infraestruturas necessárias para a futura interligação de outras fontes de energia oceânicas.
Que desafios técnicos (ainda) limitam a viabilidade comercial de novas tecnologias em energias renováveis oceânicas?
Novas tecnologias têm de ser testadas e para tal é necessária uma espécie de “via verde” para os testes, permitindo o acesos e interligação às redes elétricas de uma forma célere.
Por outro lado, torna-se importante o desenvolvimento industrial que permita o suporte a todas as atividades e posteriormente à fabricação de componentes que integrarão as novas tecnologias, em fase comercial.
Relativamente às questões de ligação à rede, é ainda necessário estudar o futuro de novas subestações que permitam interligar conjuntos de geradores à infraestrutura de ligação à terra, de forma a reduzir o número de circuitos de cabos submarinos com elevado comprimento.
Por outro lado, a própria interligação entre dispositivos de diferentes tecnologias de uma forma plug-&-play, deve ser alvo de I&D, explorando-se o conceito de “T-connector”, uma espécie de “ficha tripla” em grande escala e à prova das condições oceânicas.
Que inovações (eg. materiais, digitalização ou inteligência artificial) têm o potencial de transformar as tecnologias oceânicas?
As energias oceânicas têm custos de instalação e manutenção elevados. Todavia, a inovação poderá trazer a redução destes custos, através da adoção de novas tecnologias, quer para monitorização, quer para a manutenção, permitindo otimizar processos e aceder a modelos de gémeos digitais para averiguação do índice de saúde de diversos componentes.
Nesta vertente, a robótica autónoma terá um papel fundamental em tarefas de inspeção e recolha de dados. Por outro lado, a análise dos dados e digitalização dos diferentes sistemas, permitirão a adoção de modelos matemáticos que poderão identificar anomalias assim como definir a melhor janela temporal para efetuar tarefas de manutenção.
Por fim, modelos de inteligência artificial poderão ser treinados para a previsão dos recursos e deteção de fenómenos extremos, que permitirão adotar estratégias de proteção preventiva dos ativos de produção de energia.
Não obstante, toda a tecnologia poderá permitir também
o aumento do conhecimento da vida marinha envolvente, criando bases de dados
para estudos futuros uma vez que se baseará numa forte rede de sensores.