A Visão de José Pinheiro, CEO da Ocean Winds
Esta entrevista foi realizada a José Pinheiro, CEO da Ocean Winds, no âmbito do projeto Blue Compass, promovido pela Rede Hub Azul Portugal, com base em insights do Hub Azul Dealroom, a principal plataforma digital de matchmaking para a inovação azul.
O setor das energias renováveis oceânicas está a evoluir ao ritmo necessário para cumprir as metas energéticas e climáticas? O que falta ainda?
Para o cumprimento das metas energéticas e climáticas, podemos constar que ainda há muito por fazer no âmbito do setor das energias renováveis oceânicas, se considerarmos que:
- Actualmente as energias renováveis apenas fornecem 15% de toda a electricidade a nível planetário;
- Será necessário atingir 60% de produção de energias renováveis em 2030, e 90% em 2050, para alcançarmos a neutralidade carbónica desejada;
- 70% da superfície do Planeta está coberta pelo Oceano.
Do Oceano provirá, sem qualquer margem de dúvida, a maior fonte de energia renovável ainda por explorar (seja ondas, marés, gradiente de temperatura ou salinidade, ou o vento que se gera no Oceano) como alternativa às fontes não renováveis, concluindo-se então que muito haverá ainda a fazer no domínio do Oceano.
Se colocarmos apenas enfoque na energia eólica offshore - que é já consensual, que terá um papel muito relevante no processo de transição energética rumo à neutralidade carbónica - existem actualmente 70 GW de capacidade instalada, e a previsão que sejam 600 GW em 2050; reforçando a ideia anterior, e que há a necessidade de acelerar o ritmo.
Actualmente, na Ocean Winds contamos com um portefólio de mais de 18,8 GW eólico offshore (fixo e flutuante), distribuídos por 8 países, trabalhando diariamente com o objectivo continuar a ser actores-chave nesta transição energética.
Quais são as principais lacunas que ainda dificultam a escalabilidade dos projetos offshore no setor energético? Como podem ser colmatadas?
Os desafios que se colocam, são em geral transversais a todas as energias renováveis que necessitam ganhar escala de implementação. E a escalabilidade é essencial que ocorra nos próximos anos, de modo a assegurar que conseguimos chegar aos objectivos do Acordo de Paris e projectar esta transição rumo a 2050.
Para escalarmos as energias renováveis offshore, necessitamos de assegurar vários factores, entre os quais podemos destacar os seguintes:
. Desenvolvimento de políticas energéticas: as políticas energéticas devem ser correctas, e concertadas entre países, numa lógica de garantia de estabilidade e de coesão.
. Regulação: que permita a venda da electricidade produzida (seja para o sistema eléctrico, seja para o consumidor final)
. Financiamento: trata-se de milhares de milhões (de euros) de investimento.
. Cadeia de fornecimento: é preciso também ganhar outra escala, para podermos referir-nos a uma indústria verdadeiramente global.
. Recursos Humanos: Devemos ter mais pessoas devidamente capacitadas para desempenhar estas funções em toda a extensão da cadeia de valor do sector.
Quais os principais desafios na integração das energias renováveis oceânicas na rede elétrica e na sua articulação com utilities e operadores do sistema?
O facto de que as redes elétricas se tenham de expandir para o mar, é algo que estamos a ver como uma consequência natural da evolução dos sistemas elétricos. Obviamente, no mar existem desafios que não existem em terra, mas não creio que os grandes desafios neste momento sejam tecnológicos.
Continua a ser, essencialmente, um tema de rumo de política energética e definição de regulação; determinando, perfeitamente, o papel do promotor do projeto e do operador da rede, bem como identificando as interfaces, de forma clara. É essencial acomodar, de forma equilibrada, os riscos de cada um deste atores, que no fundo são essenciais para que estes projetos sejam exequíveis a todos os níveis - técnico e financeiro.