A visão de Luís Pedro Machado, Diretor Executivo Etermar Energia S.A.
Esta entrevista foi realizada a Luís Pedro Machado, Diretor Executivo Etermar Energia S.A., parceiro do projeto ATE - Aliança para a Transição Energética, que partilha as visões, contributos e expectativas e dá a conhecer o trabalho desenvolvido, os avanços tecnológicos em curso e a importância da colaboração entre indústria, investigação e inovação para alcançar uma transição energética eficaz e sustentável.
Quais os principais desafios técnicos que a ETERMAR enfrentou e/ou está a enfrentar na conceção e construção da estrutura flutuante em betão?
Este projeto iniciou num momento em que o governo de Portugal anunciava a intenção de lançar um leilão de 10GW a construir até 2030. Neste momento, a incerteza sobre as condições e dimensão dos projetos em Portugal resultam num maior desinteresse do mercado e da indústria em investir na capacitação das suas fábricas e produtos para este sector. É necessário voltar a contar com uma mensagem clara dos nossos governantes para que a indústria possa voltar a inserir o offshore flutuante no seu business plan e realize os investimentos necessários para estar preparada para a execução, em Portugal, destes projetos.
Pela razão mencionada anteriormente e pelo facto de ser uma tecnologia ainda pouco madura foi/é necessário identificar fornecedores com vontade de investir horas de desenvolvimento do seu produto para o adaptar à tecnologia.
É um trabalho constante de desenvolvimento e aprendizagem onde não existe ainda muita normalização e regulamentação e como tal, é necessário definir as especificações do produto que vamos desenvolver.
De que forma o betão se apresenta como uma alternativa mais viável ou económica em comparação com o aço nas plataformas offshore wind?
Em Portugal, a alternativa do betão terá um papel preponderante para a redução do LCOE dos projetos. É 100% conteúdo local, menos mão de obra intensivo quando comparado com a fabricação em aço e mão de obra menos especializada e de mais fácil atração e capacitação.
Como está a ser garantida a durabilidade e resistência da estrutura em ambiente marítimo agressivo?
O betão é um material naturalmente mais resistente à água que o aço, que não precisas de sistemas catódicos ou pintura de proteção à corrosão. Para garantir a resistência da armadura de aço que estará embebida na estrutura devemos garantir que a estrutura não terá fissuração que permita o acesso da água a esse ponto.
Para isso estamos a trabalhar com a VSL num sistema de pré-tensionamento que permita que toda a estrutura se mantenha em estado de permanente compressão e com a SECIL numa mistura de betão com capacidade elástica, resistência a sais e capacidade de regeneração em caso de ocorrência de microfissuras.
Que tipo de inovações ou soluções construtivas estão a ser aplicadas nesta plataforma que poderão ser replicadas no futuro?
O objetivo do projeto é estudar as soluções construtivas de cofragem, tensionamento de armaduras ativas e colocação em flutuação das plataformas, por forma a utilizar esta aprendizagem nos projetos comerciais futuros.
A plataforma será dotada de um Digital Twin que permitirá aceder em tempo real aos resultados do sistema de monitorização posicional, estrutural e ambiental da plataforma.
Que impacto esperam que este projeto tenha no posicionamento da ETERMAR no setor das energias renováveis offshore?
A Etermar está já neste momento posicionada como fabricante de estruturas no mercado das energias renováveis offshore para os projetos bottom fixed. Este projeto será de extrema relevância para nos posicionar para os futuros projetos de floating, demonstrando a nossa capacidade para a construção das plataformas na Etermar e consequentemente no Porto de Setúbal e em Portugal.
Como é que a ETERMAR analisa o impacto e a relevância do Workpackage 7 no contexto da transição energética em Portugal e no desenvolvimento de soluções offshore mais sustentáveis e competitivas?
Consideramos que a mensagem chave é que existe capacidade em Portugal para pensar e executar projetos de eólica flutuante, para Portugal ou para outros projetos europeus. O WP7 é apenas mais uma demonstração disso.
O Fórum Oceano está a participar ativamente no projeto ATE – Aliança para a Transição Energética, uma iniciativa estratégica que visa acelerar o desenvolvimento e implementação de soluções tecnológicas sustentáveis para a produção de energia renovável. No âmbito deste projeto, o WP07 – Tecnologias Inovadoras para Energia Elétrica Renovável Offshore assume um papel central no avanço da energia eólica no mar, com especial enfoque em estruturas flutuantes em betão armado.
Este pacote de trabalho (WP07) tem como objetivo promover a transição energética e contribuir para a descarbonização da economia, através do desenvolvimento de plataformas e infraestruturas mais sustentáveis, resistentes e economicamente viáveis.
A aposta recai na industrialização do fabrico de plataformas flutuantes e na validação de soluções inovadoras equipadas com sensores embutidos, capazes de realizar monitorização estrutural e ambiental, apoiadas por tecnologias digitais como gémeos digitais (digital twins) e sistemas avançados de análise de dados.
O Fórum Oceano, enquanto Cluster da Economia Azul de Portugal, atua como facilitador da colaboração entre os diversos agentes do setor e como promotor da visibilidade e transferência de conhecimento resultante deste projeto. Através da sua participação, contribui para a criação de uma nova cadeia de valor ligada à energia eólica offshore, com potencial significativo de exportação e impacto internacional.