Vitor Vasconcelos3

O que está a promover a inovação na Biotecnologia Azul?

6 de maio de 2025

A visão de Vítor Vasconcelos, Presidente do Conselho de Administração do CIIMAR, parceiro do consórcio do Hub Azul Leixões 1.
Esta entrevista foi realizada a Vítor Vasconcelos, Professor Catedrático na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e Presidente do Conselho de Administração do CIIMAR, no âmbito do projeto Blue Compass, promovido pela Rede Hub Azul Portugal, com base em insights do Hub Azul Dealroom, a principal plataforma digital de matchmaking para a inovação azul.
Quais são os avanços científicos ou tecnológicos que atualmente impulsionam a inovação em Biotecnologia Azul?
A inovação na Biotecnologia Azul está a ser impulsionada por diversos avanços científicos e tecnológicos, incluindo avanços em genómica, bioinformática, engenharia genética e inteligência artificial (IA). O facto de ser mais rápido e barato desvendar genomas completos de organismos, combinado com ferramentas assistidas por IA para anotação genética, está a permitir a descoberta de novos compostos bioativos, o desenvolvimento de técnicas inovadoras de bioprocessamento e a utilização de organismos marinhos para várias aplicações, como produção de alimentos e rações, fármacos, biofertilizantes, cosméticos, novos materiais e a utilização de microrganismos inteiros para biorremediação.
Existe ainda uma grande parte da biodiversidade marinha mundial por descobrir, especialmente microrganismos que possuem agrupamentos genéticos ricos, responsáveis por novas químicas em enzimas especiais com aplicações industriais. O estabelecimento de Biobancos Azuis Marinhos deve ser visto como um avanço científico importante para a Biotecnologia Azul, com a recolha, preenchimento e armazenamento de milhões de espécimes que podem ser utilizados globalmente para descobrir novas utilizações de forma sustentável.
Estes Biobancos podem conter espécimes vivos (coleções de bactérias, fungos, microalgas), material genético, amostras preservadas ou extratos. O Biobanco Azul Português, que está a ser estabelecido no âmbito do programa PRR (Pacto de Inovação Azul), é um bom exemplo, estando a formar uma rede de biobancos marinhos distribuídos por todo o país para serem utilizados tanto pela comunidade científica como por empresas para criar valor.
Quais os subsectores da Biotecnologia Azul (por exemplo, materiais à base de algas, edição genética, biocombustíveis, bioprodutos marinhos) que têm maior potencial de comercialização?
A comercialização de novos produtos derivados de organismos marinhos irá criar novas oportunidades económicas, especialmente para comunidades costeiras e regiões com uma forte tradição marítima, proporcionando um valor acrescentado superior aos organismos marinhos, muito maior do que os produtos tradicionalmente derivados da pesca ou da indústria conserveira. As aplicações que podem chegar mais rapidamente ao mercado são aquelas nos setores da alimentação e rações, incluindo nutracêuticos que podem ter preços de mercado mais elevados. Estes podem ser usados como ingredientes que acrescentam valor aos produtos finais. Biofertilizantes, bioestimulantes e bioprotetores, principalmente de origem algal, já estão a ser produzidos por muitas startups e PME, maioritariamente utilizando micro e macroalgas produzidas em sistemas circulares sustentáveis.
Os cosméticos produzidos a partir de algas também estão a aumentar a sua entrada no mercado, dado o facto de serem veganos e possuírem propriedades protetoras importantes em comparação com os não-orgânicos. Novas aplicações de organismos marinhos incluem as indústrias têxtil e de calçado (por exemplo, pigmentos funcionais como corantes, fibras de macroalgas, utilização de redes descartadas e plástico recolhido para sapatos), tintas anti-incrustantes (provenientes de cianobactérias e outros microrganismos), novos materiais (por exemplo, polissacarídeos extracelulares para embalagens e aumento da vida útil de produtos frescos).
A necessidade de novos fármacos, em especial novos antibióticos para combater bactérias multirresistentes, é também uma oportunidade para a Biotecnologia Azul, num período de produção médio-longo, mas com elevado potencial de comercialização.
Quais são os principais desafios — técnicos, regulamentares ou financeiros — que atualmente limitam a escalabilidade das soluções de Biotecnologia Azul?
Estes desafios vão desde fatores como a complexidade dos ecossistemas marinhos e o acesso a recursos genéticos, até obstáculos regulamentares para novas tecnologias, em especial a edição genética, e dificuldades em garantir financiamento para projetos de elevado risco e longo prazo. O desenvolvimento do setor da Biotecnologia Azul ainda depende muito de PME (spin-offs e startups) que lutam para encontrar recursos técnicos e financeiros para desenvolver os seus produtos, processos e serviços.
O financiamento inicial é sempre um problema num setor que não proporciona um retorno imediato em comparação com o setor de TI. Existe a necessidade de estabelecer incubadoras fortes, próximas de centros de investigação consolidados, que possam fornecer apoio tecnológico nas fases iniciais das PME. O setor da Biotecnologia Azul normalmente necessita de recursos tecnológicos dispendiosos, que uma PME recém-criada não pode e não deve suportar sozinha. Entidades de financiamento que apoiem um setor de alto risco e elevado potencial são também necessárias, uma vez que as PME dependem fortemente de investimentos significativos nas fases iniciais do seu desenvolvimento, o que constitui uma limitação séria na Europa.
A simplificação dos processos de licenciamento é igualmente necessária, visto que estas PME não podem esperar vários anos para obter permissões para operar, construir instalações ou licenciar novos produtos. A comunicação orientada para o consumidor é também uma ação crítica para facilitar a aceitação de um determinado produto ou serviço pelo consumidor final. Esta ação em particular é útil para os intervenientes em toda a cadeia de valor, mas muitas vezes só é economicamente sustentável para grandes empresas.
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